quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Antônio Francisco

Antonio Francisco é um escritor que muito tenho respeito, por isso decidi publicar no Blog um cordel dele.
É fácil observar veneração por autores que surgem da Bahia pra baixo e difícil ver pessoas com trabalhos tão bons quanto o dele pra essas “bandas de cá”, não sei se pela dificuldade geográfica, que realmente existe, ou por qualquer outro motivo, o fato é que há preconceitos em reconhecer isso, tanto nosso (quando falo isso me refiro ao reconhecimento do artista da local) quanto de outras pessoas.
Quem ainda não conhece vale a pena comprar seus livros!
OS SETE CONSTITUINTES
Quem já passou no sertão
E viu o solo rachado,
A caatinga cor de cinza,
Duvido não ter parado
Pra ficar olhando o verde
Do juazeiro copado.
E sair dali pensando:
Como pode a natureza
Num clima tão quente e seco,
Numa terra indefesa
Com tanta adversidade
Criar tamanha beleza.
O juazeiro, seu moço,
É pra nós a resistência,
A força, a garra e a saga,
O grito de independência
Do sertanejo que luta
Na frente da emergência.
Nos seus galhos se agasalham
Do periquito ao cancão.
É hotel do retirante
Que anda de pé no chão,
O general da caatinga
E o vigia do sertão.
E foi debaixo de um deles
Que eu vi um porco falando,
Um cachorro e uma cobra
E um burro reclamando,
Um rato e um morcego
E uma vaca escutando.
Isso já faz tanto tempo
Que eu nem me lembro mais
Se foi pra lá de Fortim,Se foi pra cá de
Cristais,Eu só me lembro direito
Do que disse os animais.
Eu vinha de Canindé
Com sono e muito cansado,
Quando vi perto da estrada
Um juazeiro copado.
Subi, armei minha rede
E fiquei ali deitado.
Como a noite estava linda,
Procurei ver o cruzeiro,
Mas, cansado como estava,
Peguei no sono ligeiro.
Só acordei com uns gritos
Debaixo do juazeiro.
Quando eu olhei para baixo
Eu vi um porco falando,
Um cachorro e uma cobra
E um burro reclamando,
Um rato e um morcego
E uma vaca escutando.
O porco dizia assim:–
“Pelas barbas do capeta!
Se nós ficarmos parados
A coisa vai ficar preta...
Do jeito que o homem vai,
Vai acabar o planeta.
Já sujaram os sete mares
Do Atlântico ao mar Egeu,
As florestas estão capengas,
Os rios da cor de breu
E ainda por cima dizem
Que o seboso sou eu.
Os bichos bateram palmas,
O porco deu com a mão,
O rato se levantou
E disse: – “Prestem atenção,
Eu também já não suporto
Ser chamado de ladrão.
O homem, sim, mente e rouba,
Vende a honra, compra o nome.
Nós só pegamos a sobra
Daquilo que ele come
E somente o necessário
Pra saciar nossa fome.”
Palmas, gritos e assovios
Ecoaram na floresta,
A vaca se levantou
E disse franzindo a testa:–
“Eu convivo com o homem,
É um mal-agradecido,
Orgulhoso, inconsciente.
É doido e se faz de cego,
Não sente o que a gente sente,
E quando nasce e tomando
A pulso o leite da gente.
Entre aplausos e gritos,
A cobra se levantou,
Ficou na ponta do rabo
E disse: – “Também eu sou
Perseguida pelo homem
Pra todo canto que vou.
Mas sei que ele não presta.
Pra vocês o homem é ruim,
Mas pra nós ele é cruel.
Mata a cobra, tira o couro,
Come a carne, estoura o fel,
Descarrega todo o ódio
Em cima da cascavel.
É certo, eu tenho veneno,
Mas nunca fiz um canhão.
E entre mim e o homem,
Há uma contradição
O meu veneno é na presa,
O dele no coração.
Entre os venenos do homem,
O meu se perde na sobra...
Numa guerra o homem mata
Centenas numa manobra,
Inda tem cego que diz:
Eu tenho medo de cobra.”
A cobra inda quis falar,
Mas, de repente, um esturro.
É que o rato, pulando,
Pisou no rabo do burro
E o burro partiu pra cima
Do rato pra dar-lhe um murro.
Mas, o morcego notando
Que ia acabar a paz,
Pulou na frente do burro
E disse: – “Calma, rapaz!...
Baixe a guarda, abra o casco,
Não faça o que o homem faz.”
O burro pediu desculpas
E disse: – “Muito obrigado,
Me perdoe se fui grosseiro,
É que eu ando estressado
De tanto apanhar do homem
Sem nunca ter revidado.”
O rato disse: – “Seu burro,
Você sofre porque quer.
Tem força por quatro homens,
Da carroça é o chofer...
Sabe dar coice e morder,
Só apanha se quiser.”
O burro disse: – “Eu seiQue sou melhor do que ele.
Mas se eu morder o homem
Ou se eu der um coice nele
É mesmo que estar trocando
O meu juízo no dele.
Os bichos todos gritaram:– “Burro, burro... muito bem!”
O burro disse: – “Obrigado,Mas aqui ainda tem
O cachorro e o morcego
Que querem falar também.”
O cachorro disse: – “Amigos,
Todos vocês têm razão...
O homem é um quase nada
Rodando na contramão,
Um quebra-cabeça humano
Sem prumo e sem direção.
Eu nunca vou entender
Por que o homem é assim:
Se odeiam, fazem guerra
E tudo o quanto é ruim
E a vacina da raiva
Em vez deles, dão em mim.”
Os bichos bateram palmas
E gritaram: – “Vá em frente.”
Mas o cachorro parou,
Disse: – “Obrigado, gente,
Mas falta ainda o morcego
Dizer o que ele sente.”
O morcego abriu as asas,
Deu uma grande risada
E disse: – “Eu sou o único
Que não posso dizer nada
Porque o homem pra nós
Tem sido até camarada.
Constrói castelos enormes
Com torre, sino e altar,
Põe cerâmica e azulejos
E dão pra gente morar
E deixam milhares deles
Nas ruas, sem ter um lar.”
O morcego bateu asas,
Se perdeu na escuridão,
O rato pediu a vez,
Mas não ouvi nada, não.
Peguei no sono e perdi
O fim da reunião.
Quando o dia amanheceu,
Eu desci do meu poleiro.
Procurei os animais,
Não vi mais nem o roteiro,
Vi somente umas pegadas
Debaixo do juazeiro.
Eu disse olhando as pegadas:
Se essa reunião
Tivesse sido por nós,
Estava coberto o chão
De piubas de cigarros,
Guardanapo e papelão.
Botei a maca nas costas
E saí cortando o vento.
Tirei a viagem toda
Sem tirar do pensamento
Os sete bichos zombando
Do nosso comportamento.
Hoje, quando vejo na rua
Um rato morto no chão,
Um burro mulo piado,
Um homem com um facão
Agredindo a natureza,
Eu tenho plena certeza:
Os bichos tinham razão.

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Bom... Retornando ao assunto das varias vidas, o que notei é que quando o tempo vai passando mais distantes ficamos de certas pessoas, o que em um instante parecia ser muito próximo a partir de um momento de sua vida, sem deixar que você perceba muito bem onde essa borda se dá, tudo muda, e tudo mudando parece que aquilo que você viveu foi algo que na verdade não aconteceu, como se fosse um sonho distante da realidade.
Engraçado pensar, quando somos crianças tudo aquilo que vivemos parece ser o que existe, logo depois vamos crescendo e vamos notando que a vida é um pouco mais complexa do que aquilo que acreditamos, na adolescência percebemos como podemos ser fortes, mas ao mesmo tempo temos a noção de como tudo é frágil, ainda não sei ao certo como é na juventude, mas o que percebo ate agora é que a preocupação com o futuro é muito maior e que talvez com toda essa danada da globalização podemos perder bastante tempo fazendo planos mirabolantes.
Por enquanto meu plano é não pensar muito NO QUE ME ESPERA PARA O FUTURO, e tentar manter todos o mais próximo quanto posso deixá-los, não sei se vai dar certo, por enquanto não estou tendo muito êxito. MAS O QUE ME ESPERA PARA O FUTURO?

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Há principio...

Há algum tempo eu tive um Blog, na verdade um fotolog, isso mesmo, aquele cujas pessoas são os artistas, na realidade depois da internet, flogs e orkuts todos somos um pouco artistas né... Mas a razão de eu ter optado por abrir um novo blog foi o fato de sentir necessidade de escrever, mesmo que as pessoas não leiam nem comentem, mas é algo muito mais meu, tipo um diário, mas com as coisas que eu penso.
Há alguns dias vinha pensando da seguinte forma, “nós temos varias vidas”, é, “nós temos varias vidas”! A forma que vemos fatos há muito passado que parecem ter sido com pessoas que não significam muita coisa pra você hoje em dia, apesar delas ainda fazerem parte de sua vida, sei que você que está lendo agora pode estar um pouco confuso, ou talvez tenha se atentado para este fato agora, vou tentar explicar com ações.
Há dois dias encontrei a minha primeira melhor amiga no orkut, me senti muito animada, mas com um pouco de medo, pois não sabia mais nada daquela estranha que cresceu comigo, tomei toda a coragem que tinha (e que não vou ter mais durante um bom tempo) e deixei um recado lembrando de alguns fatos imprescindíveis para que ela me reconhecesse, logo em seguida recebi uma resposta, para meu espanto, pois já eram 2h da manhã, dizendo que se lembrava perfeitamente de mim e que tinha muita saudade. Na realidade, pelo que a conheço, eu já esperava por esta reação, mas o que pensar de uma pessoa que você não vê há 11 anos?
Bom... o fato é que, percebi o quanto perdemos quando não arriscamos e o quanto mudamos com o passar do tempo. Ainda tenho muita coisa pra falar sobre o “varias vidas”, mas vou deixar pra depois. Agora estou com muito sono e pretendo dormir dentro de instantes.